Setor aéreo debate aprimoramento de rotas em trabalho conjunto inédito

Ao longo da semana passada os representantes de companhias aéreas e do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) estiveram reunidos em São Paulo para discutir, por meio de um processo colaborativo inédito na história do transporte aéreo brasileiro – o CDM (Collaborative Decision Making, ou Processo Decisório Colaborativo) – o aprimoramento das rotas utilizadas pelas aeronaves no país, seja para os deslocamentos domésticos ou internacionais.

O resultado prático para a sociedade é o oferecimento de rotas aéreas mais rápidas, possível pelo uso crescente das tecnologias de navegação por satélite (PBN – Performance Based Navigation, ou Navegação Baseada em Performance), em implantação no Brasil desde o final da década passada. O objetivo do setor é reduzir 91 mil milhas náuticas por mês dos percursos realizados pela aviação regular. Para isso, as rotas preferenciais foram atualizadas e revisadas, de forma a incorporar os conhecimentos da operação e as novas tecnologias disponíveis aos requisitos de segurança, estratégia e infraestrutura. Das mais de 180 rotas apresentadas e estudadas em conjunto, 80% já foram aprovadas.

A rota de voo é o trajeto a ser percorrido pela aeronave entre dois pontos. Sua composição deve levar em consideração, por exemplo, as condições climáticas e a incidência de ventos, fatores que podem interferir na velocidade do avião durante a viagem e, consequentemente, no aumento do tempo voo. Até recentemente, o cumprimento desses trajetos estava necessariamente vinculado ao apoio de equipamentos instalados no solo, utilizando para isso a comunicação por frequências de rádio. A adoção das novas tecnologias que utilizam a comunicação por satélites libera as rotas para serem mais eficientes, possibilitando o uso de trajetórias em curvas e retas, conforme a necessidade e a situação, ampliando assim a capacidade de tráfego do sistema.

De acordo com o comandante Paulo Roberto Alonso, consultor técnico da ABEAR, não existe um voo igual ao outro, mesmo que seja realizado diariamente. “Muitas vezes, uma trajetória em linha reta não é a melhor rota a ser seguida. Antes de iniciar um planejamento de voo, é preciso analisar toda a região que será cruzada pela aeronave, o que permite identificar as condições em determinadas épocas do ano e pontos a serem desviados para otimizar a viagem”, explica.

Para o setor, o encontro é histórico e representa grande evolução na promoção de debates e tomada conjunta de decisões. Esse modelo tornou possível agregar o conhecimento técnico da operação à visão de segurança do DECEA para criar um sistema de navegação extremamente eficiente.

Para o DECEA,  a construção coletiva do planejamento atende à nova demanda do tráfego aéreo. O coronel-aviador Luiz Ricardo de Souza Nascimento, adjunto do SDOP (Subdepartamento de Operações) do DECEA, avalia que abrir portas para o debate com o setor é de fundamental importância para buscar o melhor uso do espaço aéreo. “O benefício para a sociedade é direto, com redução do tempo de voo e manutenção da segurança”, diz.
Com a aprovação do DECEA, a previsão é que até o final de abril as novas rotas já estejam disponibilizadas e emitidas, e inseridas nos bancos de dados dos sistemas das aeronaves.

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